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Rede Sindical Brasileira UNISaúde: falta de testes põe em risco profissionais de saúde e sociedade

Testagem de Covid-19 só ocorre quando há presença de sintomas da doença. Entidades de profissionais de saúde cobram de estados agilidade na liberação de testes em estoque no governo federal

Por: UniGlobal Américas

A Rede Sindical Brasileira UNISaúde alerta que a falta de testes disponíveis, principalmente nas redes públicas de saúde, tanto estaduais quanto municipais, colocam em risco a saúde e a vida dos profissionais da linha de frente da pandemia de Covid-19 no Brasil e, consequentemente, a sociedade como um todo.

Por essa razão, a rede sindical, juntamente com seus sindicatos e federações afiliados, conclamam que os governos estaduais agilizem a liberação dos testes atualmente em estoque no Ministério da Saúde.

Conforme dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, no último dia 30 de junho havia 7,67 milhões de testes RT-PCR em estoque, enquanto pouco mais de 3,8 milhões foram distribuídos.

“É importante garantir um ambiente de trabalho seguro aos profissionais de saúde. Testando a todos, vamos cuidar de quem cuida, além de garantir que também não sejam vítimas. É responsabilidade das empresas médicas e dos governos, tanto nas esferas federal, estadual e municipal, que os testes sejam disponibilizados, inclusive aos não assintomáticos”, pontua Márcio Monzane, Secretário Regional da UNI Américas.

Entidades de profissionais de saúde sob o guarda-chuva da Rede Sindical UNISaúde ingressaram com várias ações judiciais para assegurar a testagem de Covid-19 aos profissionais de saúde. Além disso, o Cofen (Conselho Nacional de Enfermagem) obteve, em maio, decisão favorável no Tribunal Regional Federal da 1ª Região para seu agravo de instrumento que pedia a garantia de realização de testes aos profissionais de enfermagem, por parte do governo federal, incluindo os que não apresentam sintomas da doença.

Contudo, a realidade dos profissionais na linha de frente do combate à doença ainda está longe do ideal. Representantes de sindicatos e federações dos profissionais de saúde de todo Brasil denunciam que, desde o início da pandemia, em março passado, a baixa testagem desses profissionais tem provocado mortes e afastamentos pela doença, o que também afeta a eficiência do atendimento das vítimas da Covid-19.

 

Sentindo na pele

 

A técnica em enfermagem Nicoli Iara Santos Mota sentiu na pele o problema da falta de testagem para Covid-19 no Hospital Ouro Verde, em Campinas (SP), onde trabalha na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Ela teve os primeiros sintomas da doença em março, mas só realizou o teste quando já estava na UTI, cerca de um mês depois.

“No dia 17 de março, fui trabalhar e comecei a ter sintomas de gripe, como tosse, coriza. Passei no pronto-atendimento do hospital e a médica que me atendeu me deu 14 dias de atestado. No entanto, o médico do trabalho mandou que eu voltasse para o trabalho nove dias depois”, conta.

No entanto, os sintomas permaneciam. Ela trabalhou alguns dias, mas, como estava com muita dor nas costas, passou em outro médico, que a medicou e a mandou de volta para casa. Nesse período, passou mal em casa, o pai a levou ao hospital onde trabalha, onde finalmente realizou exames como tomografia e gasometria. No fim da tarde, foi levada para a UTI. Ficou 21 dias entubada – inclusive realizou traqueostomia – e mais dois respirando com a ajuda de aparelhos. A via-sacra toda durou de 07 de abril a 06 de maio. Ela voltou para o trabalho na penúltima semana de junho.

“Quando estava internada, mais técnicos chegaram a se afastar por causa da doença. Hoje, a testagem para quem apresenta sintomas está melhor, mas não há controle sobre os assintomáticos. Creio que os testes deveriam ser feitos a cada 15 dias, porque hoje pode dar negativo, mas daqui a alguns dias a gente não sabe como vai ser”, sugere.

No Rio de Janeiro, segundo estado com o maior número de mortes pela doença no país, tanto de profissionais de saúde quanto da população em geral, só há testes disponíveis para cobrir 10% do número profissionais de saúde do estado e município. Ao todo, o Rio conta com 291 mil enfermeiros e técnicos de enfermagem.

“Não temos oferta de teste suficientes para atender a esses trabalhadores, o que coloca a saúde deles em risco, bem como a de seus colegas de trabalhos, de familiares e pacientes”, diz Líbia Bellusci, vice-presidente do Sindenf-RJ (Sindicato dos Enfermeiros do Rio de Janeiro). A situação, segundo ela, só está um pouco melhor na rede privada, mas, ainda assim, é insuficiente.

Ainda de acordo com Líbia, que é enfermeira da UPA-Penha (Unidade de Pronto Atendimento da Penha) e do SAMU do Rio, a testagem de profissionais ocorre somente quando há sintomas.

“Eu tive corona e consegui fazer o teste no projeto da UFRJ (Centro de Triagem Diagnóstica da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Entrei na fila com febre de 40 graus, e achei maravilhoso por ter conseguido antes de ter os sintomas graves da doença”, conta a enfermeira, que ficou preocupada em não transmitir o vírus para a mãe e a filha.

O Sindenf-RJ chegou a encaminhar ofícios para as secretarias municipal e estadual de saúde solicitando que mais testes fossem disponibilizados e, embora tenha havido uma melhora, o número ainda é insuficiente.

Mortes

Conforme o Observatório da Enfermagem elaborado pelo Cofen (Conselho Federal de Enfermagem), até o dia 30 de junho foram registradas 220 mortes de enfermeiros e técnicos. O número total de casos registrados da doença entre esses profissionais é de 22.209, sendo 8.371 confirmados, 1.560 não confirmados e 11.690 suspeitos.

O número de médicos mortos, segundo balanço do próprio Ministério da Saúde, ultrapassava os 200 no fim de junho.

Sobre a Rede Sindical Brasileira UNISaúde:

Rede Sindical Brasileira UNISaúde é composta de entidades sindicais brasileiras que atuam na área da saúde, abarcando várias centrais sindicais localizadas em múltiplos estados e regiões do país. A Rede foi formada sob a égide da UNI Américas, a federação internacional de sindicatos da saúde privada nas Américas.