"Contribuir com o fortalecimento das Organizações Sociais na perspectiva da defesa dos direitos e da transformação social, construindo parcerias e dando visibilidade a práticas sociais inovadoras".
Não basta reconstruir; é necessário mudar os paradigmas socioambientais
“Essa tragédia que se abateu no Rio Grande do Sul é um apelo à conversão ecológica, que a mãe terra está sofrendo há muito tempo”
*Por Comunicação da Cepast- CNBB
Durante a transmissão da live “É tempo de cuidar do Rio Grande do Sul” proporcionado pelas comissões Ação Sociotransformadora e para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB em (28/05), as reflexões para mudanças urgentes e efetivas para o cuidado com a casa comum foi destaque. Com o tema O Bem Viver frente à emergência socioambiental-climática, o momento foi de comunhão com as milhares de pessoas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. As ações para reconstruir os caminhos de vida dos gaúchos acontecem dia e noite, sem parar.
Para dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão para Ação Sociotransformadora (Cepast-CNBB), ao acolher os participantes, ressaltou que o momento de escuta é um gesto de solidariedade e compromisso com a vida humana e de toda a criação.
“Não podemos nos acostumar com os números. As pessoas que partiram nessa tragédia tinham sonhos, histórias e estarão presentes em todas as nossas ações”. Ressaltou dom Vicente de Paula Ferreira, bispo da diocese de Livramento de Nossa Senhora (BA) e presidente da Comissão para a Ecologia Integral e Mineração (CEEM-CNBB). Memória, Reparação e Esperança. Ele destacou que a memória é fundamental neste momento, como também é urgente a reparação com olhar preciso e atento para fortalecer a esperança com indicações de reconstruir um novo tempo e sociedade diante destes eventos climáticos que não são isolados.
“É urgente ouvir o grito da terra e dos povos e despertar para o novo mundo”
Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da CNBB recorda que no Evangelho, Jesus chama atenção para o cuidado e a vigília constante. O arcebispo compartilhou sobre as realidades e o quanto a força das águas impactou a vida do povo gaúcho. Citou a grandeza dos gestos solidários concretos com doações de materiais de primeiros socorros e outros bens. A mobilização e ações voluntárias a nível nacional tem sido muito forte e bonito, porém as situações de violações, furtos e oportunismo tem acontecido com frequência, afirmou dom Jaime Spengler.
“Tivemos que sair de casa só com a roupa do corpo. Tudo que vivo hoje, como afetada pela tragédia, é de muito aprendizado”
“Essa tragédia que se abateu no Rio Grande do Sul é um apelo à conversão ecológica, que a mãe terra está sofrendo há muito tempo”. Disse Jacira Dias Ruiz, da Cáritas (RS) ao iniciar seu testemunho durante a transmissão da live. Com a voz embargada ao longo de toda a sua fala, Jacira partilhou e apelou para que todas/os cristãos pense urgentemente com a atenção sobre a conversão às pautas ambientais. Ela e família que mora fora da área de risco, foi incluída junto a centenas de famílias no grupo de afetados pelas emergências do município de Canoas. “Tivemos que sair de casa só com a roupa do corpo. Tudo que vivo hoje, como afetada pela tragédia, é de muito aprendizado. Me leva a ter ainda mais a convicção de compromisso com o cuidado da casa comum”. Disse Jacira que carrega o sentimento de acolhida diante aos esforços da Cáritas Diocesana, pastorais, coletivos e outros movimentos que têm proporcionado a solidariedade organizada. O sofrimento tem sido intenso, mas as forças para continuar junto ao mutirão de construção é constante. Jacira informou que há diversas ações que vão desde as cozinhas solidárias ao abraço de afeto e cuidados com que ajuda. Gestos concretos que tem fortalecido os voluntários na linha de frente. Ela terminou o seu testemunho alertando para as mudanças de paradigmas diante a sociedade que pensa somente no lucro, enquanto a força das águas diz claramente, que não há limites e barreiras para conter a destruição e desrespeito à mãe terra.
“Se não tivermos esse olhar e essa conexão com a natureza, talvez a gente não sobreviva enquanto humanidade”
Um outro fator que a população afetada do RGS tem vivenciado, é a conexão da internet. Salete Carollo, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST- RS) participaria da live, mas com os fortes ventos que fazia naquela noite na cidade onde estava, não foi possível a sua participação. Katia Marko da assessoria de comunicação do MST do Rio Grande do Sul a representou com seu testemunho. Os assentamentos de Eldorado do Sul ficaram submersos e viveram situações dramáticas. Famílias de assentados foram resgatadas de helicópteros. As produções agroecológicas da lavoura de arroz que estavam se restabelecendo da última enchente do mês de dezembro de 2023, perderam tudo novamente.
Kátia contou que mesmo na luta e no processo de reconstrução, o MST segue com suas ações, sobretudo na partilha do alimento através das cozinhas solidárias. No momento os assentamentos estão recebendo brigadas de outros estados para ajudar nos processos de limpeza e reconstrução. Kátia conta que comunicadores populares têm se esforçado para levar a informação confiável e dando visibilidade para as situações dos povos quilombolas e indígenas que foram bastante prejudicados. A comunicação é uma ferramenta de estratégia neste momento, sobretudo no enfrentamento à desinformação.
“Temos certeza e convicção que sairemos mais fortes deste processo. Tudo isso nos ensina que realmente devemos estar conectados com a natureza, algo que o MST vem buscando através da agroecologia e a agricultura sustentável orgânica. Se não tivermos esse olhar e essa conexão com a natureza, talvez a gente não sobreviva enquanto humanidade”. Disse Kátia.
Para ressoar ao momento de escuta os bispos dom Vicente Ferreira e dom José Valdeci Santos, sintetizaram os testemunhos, afirmando: É urgente ouvir o grito da terra e dos povos e despertar para o novo mundo para fazer um pacto em rede pela vida. Um pacto para superar a engenharia de morte e o compromisso com o projeto que seja possível de promover transformações de defesa a vida.
“Temos que recuperar a espiritualidade integral na linha de São Francisco de Assis, capaz de respeitar toda a natureza, a ecologia integral que coloca em primeiro lugar na pessoa humana. […] Precisamos fazer emergir dentro de nós nossa melhor consciência e capacidade para o humanismo integral e solidário que inclua necessariamente uma conversão ecológica”. Reforçou dom Leomar Antônio Brustolin, arcebispo de Santa Maria (RS) em seu testemunho rico em contribuições e elementos importantes para serem encaminhados no âmbito da formação e consciência de compromisso. Dom Leomar lembrou que é preciso retomar a Laudato Si’, a encíclica do Papa Francisco, que debate o cuidado com o meio ambiente, com as pessoas e todos os pontos nas questões de relação entre Deus e os seres humanos.
A live está disponível para assistir a qualquer momento. Acesse, assista, compartilhe e vamos juntos refletir para buscar caminhos de compromisso e mudanças para cuidar da casa comum.
*Imagem: Voluntários e voluntarias na produção de alimentos para em momento de reconstrução no RGS – Foto: Pablo Albarenga
*Texto publicado originalmente no site da Cepast- CNBB