“Com tremenda preocupação acompanhamos os recentes desenvolvimentos políticos e os desdobramentos da pandemia no Brasil. Estejam certos e certas de nosso profundo reconhecimento de sua valiosa ação nestes tempos tenebrosos, de que a “Carta ao Povo de Deus” é apenas seu último exemplo. É com imensa gratidão que acolhemos esta manifestação de indignação contra a política irresponsável do atual governo”, diz um trecho da carta.
Ainda na carta a Misereor afirma que a manifestação dos 152 bispos do Brasil se encontra em sintonia com os apelos e a reflexão crítica compartilhadas pelos 170 parceiros no Brasil, assim como da própria Misereor.
Exmo. Sr. Arcebispo Dom Walmor Oliveira de Azevedo (Presidente da CNBB),
Exma. Sra. Ir. Maria Inês Ribeiro (Presidenta da CRB),
Prezadíssimos Irmãos e Irmãs na fé, leigos e leigas,
Saudações solidárias da Misereor para todo o Episcopado do Brasil, todas as religiosas e os religiosos, todas as leigas e leigos. Com tremenda preocupação acompanhamos os recentes desenvolvimentos políticos e os desdobramentos da pandemia no Brasil. Estejam certos e certas de nosso profundo reconhecimento de sua valiosa ação nestes tempos tenebrosos, de que a “Carta ao Povo de Deus” é apenas seu último exemplo. É. com imensa gratidão que acolhemos esta manifestação de indignação contra a política irresponsável do atual governo. Esta se encontra em plena sintonia com a reflexão crítica e os apelos dos nossos atualmente mais de 170 parceiros no
Brasil assim como da própria Misereor.
Cotidianamente acompanhamos não somente as estatísticas referentes aos casos de morte decorrentes da contração do Coronavírus. Conhecemos também a história pessoal e de luta de muitas das mais de 86.000 pessoas que perderam suas vidas: trabalhadores e trabalhadoras informais, que se esforçaram uma vida toda para assegurar o sustento de suas famílias ou membros de comunidades indígenas, que com toda a sua dedicação se colocaram ao serviço da preservação da natureza.
São inúmeros os relatos angustiantes que chegam até nós. Relatos de desenvolvimentos que se proporcionaram na sequência da pandemia e que são intoleráveis. Não nos conformamos com o aumento dos casos de violência doméstica. Não nos conformamos com a intensificação das invasões em terras indígenas e do desmatamento na Amazônia. Não nos conformamos com a estratégia das empresas de mineração em manter suas atividades, desrespeitando as necessárias medidas de precaução e colocando em risco a vida de seus trabalhadores. Não nos conformamos com o facto de ter havido a necessidade da concessão de uma liminar por parte do STF no mês de junho para finalmente suspender as operações militares nas favelas do Rio durante a pandemia.
No meio de toda esta amargura os laços de solidariedade com nossas organizações parceiras se aprofundam. Aproveitamos as vantagens da era digital e procuramos nos atualizar sobre a situação vivenciada pela população mais afetada pela pandemia e explorar formas de minimizar sua precariedade. Uma das medidas centrais que adotamos desde o início foi o remanejamento de recursos de projetos em prol de atividades que fossem ao encontro de suas necessidades. Estas vão desde a distribuição de cestas básicas, produtos de higiene e de desinfeção até ao trabalho de informação e sensibilização sobre o Coronavírus e atividades de incidência política para garantir o Direito Humano à saúde. Pois se algo nestes tempos ficou claro, é que as deficiências na assistência médica hoje não seriam tão acentuadas, se o governo nos últimos anos não tivesse adotado uma
política de “desfinanciamento” do SUS.
Contudo, nosso contributo não se resume ao apoio a projetos. Também na Alemanha e na Europa reunimos todos nossos esforços para dar visibilidade ao sofrimento vivido no Brasil e à política do atual governo. Intensificamos nossa estratégia de comunicação, incluindo a tradução e divulgação de vários apelos vindos do Brasil, como é o caso da carta aberta de Frei Betto ou umas semanas atrás o abaixo-assinado do Sebastião Salgado. Fortalecemos nosso trabalho em rede junto com outras agências da cooperação internacional e nosso trabalho de incidência política. Ressaltamos nossa campanha contra a ratificação do planejado tratado comercial entre a União Europeia e o Mercosul, cujos efeitos na sua atual versão seriam nefastos para o meio ambiente e a população tradicional e
indígena. Junto ao governo alemão assim como aos vários organismos da União Europeia apontamos para a profunda contradição existente entre a estratégia de cooperação com o atual governo brasileiro e a reivindicação de uma realidade mais justa e igualitária no Brasil. Com especial carinho Misereor acolhe a campanha “Amazoniza-te” e se solidariza com outras iniciativas, tanto das comissões da CNBB e das Pastorais como da REPAM, ou de parceiros como o CIMI, a CPT e a Cáritas.
Estamos conscientes que o episcopado brasileiro, as congregações religiosas, os leigos e as leigas se encontra numa situação desafiadora e parabenizamos seu posicionamento profético e corajoso. Nestes tempos difíceis se ressalta o papel claro e intransigente da Igreja: a opção preferencial pelos excluídos, pela Mãe Terra e seus cuidadores e cuidadoras. Os povos indígenas, as comunidades tradicionais, os ribeirinhos, a população afro-brasileira, os migrantes e as famílias refugiadas são apenas alguns dos grupos que hoje merecem um apoio reforçado. Também as vítimas dos tamanhos crimes que ocorreram em Mariana e Brumadinho continuam merecendo nossa profunda solidariedade. Saibam que nosso coração e nossa oração se unem à luta da CNBB!
“Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele;
quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele.
Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês,
individualmente, é membro desse corpo.”
(1 Cor 12,26-27)
Confiantes de que nossa ação conjunta fortalecerá ainda mais nossos vínculos de comunhão e fraternidade, nos despedimos com um abraço solidário, assegurando a nossa profunda união.
Pe. Pirmin Spiegel
Diretor Geral – Presidente
Dr. Martin Bröckelmann-Simon
Diretor Gerente
Dr. Dieter Richarz
Diretor Gerente Chefe do Depto. América
Latina
CAIS | Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais