Relatório da ONU fala em queda de 3% em 2020, mas alguns analistas preveem redução maior nos próximos anos
O que alguns dos ambientalistas e ativistas veganos mais barulhentos do planeta vêm tentando fazer há anos, sem sucesso, o pequeno coronavírus conseguiu, silenciosamente, em poucos meses: reduzir o consumo mundial de carne. De acordo com o relatório semestral das Nações Unidas sobre o mercado global de alimentos, a queda em 2020 será da ordem de 3%, o que equivale a 9,5 milhões de toneladas. Pode não parecer muito, mas este é o nível mais baixo desde o início do século XXI. As razões são inúmeras e incluem as denúncias de contaminação pela covid-19 em frigoríficos de vários países. Algumas das maiores empresas do setor tiveram que fechar fábricas ou reduzir as suas operações, como a Tyson Foods, a Smithfield Food Inc, a Cargill, a National Beef Packing e a brasileira JBS.
O declínio na demanda por produtos à base de proteína animal nesse período se deve também ao fechamento de restaurantes e escolas. Mas a principal causa é a crise econômica provocada pela pandemia, o desemprego e a consequente queda no poder aquisitivo da população. Historicamente, o consumo de carne tende a crescer numa relação direta com o aumento do poder de compra do consumidor.
Nos últimos 60 anos a produção subiu quase cinco vezes, passando de 70 milhões de toneladas em 1960 para mais de 330 milhões em 2017. É verdade que há muito mais gente no mundo. No início da década de 1960, havia cerca de 3 bilhões habitantes no planeta. Hoje, somos mais de 7,6 bilhões. Sozinho, no entanto, esse argumento não explica como a produção de carne se multiplicou por cinco. A resposta está no aumento da renda. A média global mais do que triplicou em meio século. Uma olhada rápida no mapa do consumo per capita revela que quanto mais rica é uma nação maior tende a ser o número de carnívoros. Logo, não é só uma questão de ter mais gente no mundo. São mais pessoas, mais pessoas que podem comprar e mais pessoas que querem comprar carne.
E aí começa uma outra discussão: o que faz essa gente consumir tanta carne? Até hoje, médicos, cientistas e ambientalistas vinham usando três argumentos básicos e fortes para tentar evitar que isso acontecesse. O primeiro deles é que o consumo excessivo de carne não é nada bom para a saúde. Diversos estudos da OMS (Organização Mundial de Saúde) associam uma alimentação baseada em carne vermelha e processada ao aumento do risco de doenças cardíacas, derrames e certos tipos de câncer.
O segundo argumento, bastante repetido pelos cientistas, tem a ver com a crise climática. Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) mostram que a pecuária é responsável por 14,5% dos gases de efeito estufa. Polui mais que todos os carros, trens, navios e aviões que se deslocam pelo mundo. Também gera 92% das emissões de amônia, o que acidifica o solo, diminuindo sua qualidade. Além de ser um dos setores que mais utiliza e desperdiça água no planeta.
A terceira razão lógica para que as pessoas não consumissem tanta carne está relacionada com o tratamento dado a esses animais em cativeiro, que é absolutamente desumano. Em artigo para a revista Página 22, o economista e professor da USP Ricardo Abramovay cita um estudo publicado pela Royal Society Open Science que mostra que a massa de frangos mantidos em cativeiro industrial supera a de todas as outras aves do planeta: “estes animais são configurados geneticamente para uma vida de cinco a sete semanas, durante a qual alimentam-se compulsivamente para ganhar peso com rapidez. Seus antepassados viviam entre três e onze anos. Da Idade Média para cá, o peso das galinhas industriais aumentou cinco vezes”, explica.
Fonte: https://projetocolabora.com.br/
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