"Contribuir com o fortalecimento das Organizações Sociais na perspectiva da defesa dos direitos e da transformação social, construindo parcerias e dando visibilidade a práticas sociais inovadoras".
CAIS realiza diálogo participativo sobre a conjuntura atual do Brasil
Reflexão coletiva alerta sobre a exploração do trabalho, concentração fundiária, violência contra a mulher e a polarização no país em processo de transição.
Por Cláudia Pereira | CAIS
O Brasil que temos reúne maior índice de desigualdade econômica social e concentração fundiária, no campo político institucional a polarização predomina em diversas áreas. Diante ao cenário, a luta em defesa da vida é permanente no projeto do Brasil que queremos, mas é necessário compreender que o momento atual é de transição. Estes são alguns pontos da reflexão coletiva realizada pelo Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais (CAIS), no dia (22) durante o encontro virtual que teve como tema a “Conjuntura do país, perspectivas e desafios para a sociedade brasileira e para o CAIS”.
O encontro contou com a participação de Alessandra Miranda, que integra a diretoria do CAIS e é secretária executiva da 6ª Semana Social Brasileira da CNBB e também do cientista político Rudá Ricci, Doutor em Ciências Sociais e é Presidente do Instituto Cultiva em Minas Gerais. Mediado por Paulo Maldos, secretário executivo do CAIS, a proposta do diálogo participativo expôs a conjuntura atual do Brasil, principais tendências e desafios para a sociedade e as instituições que colaboram na construção de um Brasil melhor para o bem viver dos povos.
Alessandra Miranda abriu o encontro apresentando o acúmulo da 6ª Semana Social Brasileira, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A Semana Social Brasileira é um serviço de evangelização e atuação sociopolítica da Igreja no Brasil desde 1991. Nesta sexta edição que teve início em 2020 o tema é “Mutirão pela vida por terra, teto e trabalho” motivado pelo Papa Francisco. O objetivo é a construção do Projeto Popular – O Brasil que queremos: O bem viver dos Povos. Alessandra destacou que a 6ª SSB trabalhou os eixos da democracia, soberania e economia como prioridade para percorrer e conhecer os caminhos de transformação. No encontro ela pontuou os indicativos “O Brasil que temos”.
O eixo estrutural da economia e dívidas sociais impacta diretamente os mais pobres da cidade e do campo, sobretudo a população de baixa renda. Diante a imensa desigualdade social econômica e concentração de riquezas com uma pequena porcentagem de ricos brasileiros, a classe de trabalhadores e sobretudo os povos que defendem a natureza, sofrem repressão, são criminalizados quando se organizam para lutar e defender seus direitos. A 6ª SSB aponta a lógica do mercado que explora a mão de obra, os bens da natureza contribuem para o desemprego que aumentou o número de pessoas em situação de vulnerabilidade. Uma outra reflexão é com relação a soberania dos povos e a democracia, uma percepção muito ampla nos debates relacionados ao petróleo, minérios, água e floresta.
A 6ª SSB chama atenção para a invisibilidade das mulheres que estão à frente das lutas e na defesa da vida. São situações e lutas estabelecidas e protagonizadas pelas mulheres que não são visíveis, sobretudo nos espaços públicos de debates. Além das invisibilidades a violência contra elas é uma grande preocupação.
“Precisamos de um pacto com todo mundo pela vida das mulheres”
“Precisamos de um pacto com todo mundo pela vida das mulheres. Todos os homens e mulheres precisam pactuar para a garantia da vida das mulheres. Me refiro ao feminicídio, as diversas violências e outros elementos que elas ainda sofrem”. Disse Alessandra.
Uma das conquistas que ganhou destaque na 6ª SSB, foi a Articulação Nacional da Pastoral da Moradia e da Favela. Entre conquistas e desafios as articulações dos povos e comunidades tradicionais, a temática que envolve a mineração, matriz energética são processos de fortalecimento. “Nesse mutirão pela vida encontramos o rosto dos povos e a realidade concreta do nosso Brasil que é indígena e tradicional com sonhos e perspectivas que se preocupa com a casa comum”. Reforçou Alessandra ao fechar a sua apresentação.
O sociólogo e cientista político Rudá Ricci, apresentou a análise a partir das tendências nos campos institucional, sociedade civil e eleições. Entre as possibilidades apontadas por Ricci a projeção é de momento de transição interna e externa e para viver estes momentos é importante monitorar as mudanças atuais com mais atenção. No campo da política institucional, Ricci citou o cenário do congresso que pressiona o governo para fins de sustentar as bases eleitorais que geram preocupação sobretudo com a polarização e o avanço da Inteligência Artificial (IA) nesse campo. Outro apontamento é o objetivo do Governo Lula em estabilizar a democracia no país.
No campo da sociedade civil, além da polarização das visões de mundo, os direitos individuais são uma tendência em especial a juventude. Neste ponto o sociólogo faz um alerta para o identitarismo que tem como finalidade criar divisões. “O identitarismo não é antirracismo, é uma ideologia política que veio para o Brasil pelos Estados Unidos, pelas fundações empresariais que jogaram essa cultura em coletivos de mulheres negras e principalmente nas universidades”. Frisou Ricci.
No campo eleitoral, o protagonismo não será os partidos e sim os deputados federais e os grandes blocos parlamentares. A polarização ideológica é evidente nos grandes centros urbanos além do clientelismo político.
Após as apresentações, os participantes interagiram com questionamentos aos apresentadores das reflexões. Momento bastante rico que contribuiu com provocações importantes que estimulou uma continuação ao debate para um próximo encontro. Entre os questionamentos destaque para as pautas sobre as estruturas políticas e sociais, narrativas das pautas dos povos, estratégias de mudanças na ampliação de diálogo do sujeito social no coletivo.
“Nós não estamos entendendo o que está acontecendo em nosso país”
“Nós não estamos entendendo o que está acontecendo em nosso país. Nossos movimentos sociais são do século passado e o que tivemos no século 21 foram mobilizações. O movimento social mais articulado e com concepção clara da política é o movimento LGBTQIAP+”. Ressaltou Rudá que finalizou o encontro afirmando que o momento é de transição e precisamos recalcular a rota com o pé no chão e projetar as ideias a nível nacional.