"Contribuir com o fortalecimento das Organizações Sociais na perspectiva da defesa dos direitos e da transformação social, construindo parcerias e dando visibilidade a práticas sociais inovadoras".

Cais e Elo realizam roda de diálogo para debater a temática da desinformação

 

 

 

“É preciso trabalhar informação porque ela é o enfrentamento da desinformação”.

 

Fake News, o que vem pela frente? O questionamento foi mote para o debate na manhã (18) que reuniu em sala virtual mais de 60 convidados representando movimentos e organizações da sociedade civil. O debate é a repercussão do webinário realizado em 2022 com a parceria do ELO Brasil ligação e organização e o Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais (CAIS). A reflexão do primeiro encontro discutiu o papel das organizações da sociedade civil no enfrentamento à disseminação de notícias falsas e na construção de estratégias diante ao cenário. Neste atual cenário sociopolítico que a democracia brasileira foi restabelecida e em 08 de janeiro deste ano, o país vivenciou atos antidemocráticos, a reflexão sobre a desinformação é vital para a sociedade.

“A desinformação aliada às estratégias de guerra cultural e híbrida são uma das grandes ameaças às democracias da América Latina e do mundo”, disse Adriano Martins, coordenador de programas do CAIS na abertura do debate. No final do mês de março o bilionário Elon Musk, junto a empresários, executivos e pesquisadores do ramo de tecnologia, em carta aberta pediu prorrogação nas pesquisas sobre as novas ferramentas de inteligência artificial (IA). A argumentação da carta afirma que a avaliação dos novos sistemas podem trazer riscos de desinformação, ameaças à democracia e a civilização. A colocação de Adriano Martins reforça a preocupação das organizações em atuar na resistência e combate à desinformação que virou um problema na vida das pessoas.

 

 

A roda de diálogo contou com a participação de jornalistas, pesquisadores e doutores em ciências da comunicação e política.  A jornalista e ativista Magali do Nascimento, coordenadora do INTERCOM abriu a mesa de debate fazendo uma retrospectiva das últimas eleições municipais e presidencial no Brasil, para entender os efeitos das desinformações na vida dos brasileiros. “A desinformação está mais intensa em relação às eleições. A desinformação foi estratégia de campanha eleitoral e agora se coloca ainda mais ativa para fazer oposição ao governo “afirmou Magali.  A pesquisadora explicou que as ações que resultam na quantidade elevada de fake News compartilhadas diariamente, possuem uma base de sustentação.  Grupos de religiosos conservadores composto por evangélicos, espíritas, católicos e judeus formam a base de apoiadores da extrema direita para desconstruir informações e narrativas.

No contexto da cultura digital, no cenário brasileiro dos últimos anos, houve um aumento no engajamento de debates políticos, sociais e religiosos gerando polarização nos discursos. A projeção desse elemento afetou as eleições de 2022 com narrativas absurdas envolvendo pautas religiosas, políticas e até moralistas.  Neste primeiro triênio a pesquisadora reforça atenção para amplificação das temáticas com discursos de ideologia de gênero, liberdade religiosa e a covid19. São desinformações que dimensionam o negacionismo da ciência, meio ambiente e economia.

“É preciso trabalhar informação porque ela é o enfrentamento da desinformação. Informar com aquilo que existe, com dados da realidade com aquilo que de fato afeta a realidade dos povos e seguir fazendo a checagem com antecipação”. Frisou Magali que também colabora com o Coletivo Bereia que reúne pesquisadores e profissionais da comunicação que checam diariamente publicações e informações em mídias religiosas nas redes sociais brasileiras.

 

O professor e doutor em ciência política da Universidade Federal do ABC, Sérgio Amadeu, começou sua fala respondendo ao questionamento do debate em referência às Fake News, o que vem pela frente? Sérgio, que é pesquisador de redes digitais, alerta para atenção ao debate sobre a regulamentação das plataformas digitais. Por ser as redes que proliferam as desinformações, a regulamentação precisa ser apoiada pela sociedade e o professor explica a importância da participação social. “As plataformas não podem ter o direito de escolher o que desinformação ou não, as plataformas não são responsáveis pelos conteúdos de terceiros. Isso dá às plataformas o poder de criar suas próprias regras. Por isso é fundamental a regulação e com a participação da sociedade civil e com a constituição federal”.

Sérgio abordou a questão que envolve a Inteligência Artificial que é usada para ampliar as desinformações em massa em formatos de textos, som, imagens e as Deepfekes que já circulam com maior frequência. O professor alerta que o enfrentamento se faz com qualidade, de vários formatos e ferramentas digitais, mas   com repetição que prevaleça a narrativa.

Raíssa Galvão, co-fundadora e editora da Mídia Ninja reforçou sobre a rearticulação em torno dos impactos da tecnologia da informação na vida da sociedade. Construir novas narrativas diante a polarização é desafio para a sociedade atual. Neste contexto, Raissa coloca que muito além de combater, é preciso defender as narrativas que os povos da cidade, do campo, das florestas e das águas apresentam com seus valores históricos em defesa de seus direitos. “Temos que construir as nossas narrativas a partir de nossos pares, princípios e daquilo que é fato e está sendo feito. Este é um processo para construir culturas, precisamos da comunicação no centro participando da tomada de decisões, ajudando e influenciando e a comunicação precisa de espaço nas organizações”. Ressalta Raíssa.

A roda de diálogo foi bastante produtiva  que gerou proposições e sugestões para ações concretas a exemplo da continuidade de espaços para pensar e analisar a comunicação da atual conjuntura. O ELO e o CAIS, com o apoio de MISEREOR e Pão Para o Mundo (PPM), através dos encontros realizadas em 2022, desenvolveram uma série de ações para reflexão sobre o papel das organizações da sociedade civil para   a disseminação de notícias falsas na busca de construir estratégias e construir ferramentas para apontar a realidade para os povos da cidade e do campo ao enfrentar a desinformação que é um problema social.

 

Confira e compartilhe a Roda de diálogo – Fake News: o que vem pela frente?

 

 

 

Por Cláudia Pereira