O planejamento orientado a efeitos é o primeiro passo para a construção de um projeto social. Onde estamos e onde queremos chegar são as questões centrais a serem encaradas nesse momento. Entre a situação atual (problema / negação de direitos) e uma situação futura desejada (superação do problema / conquista de direitos) há uma lacuna e o desafio do planejamento é preencher essa lacuna, projetando estratégias e ações capazes de induzir as mudanças almejadas.
As organizações sociais realizam planejamentos, com diversos formatos, metodologias e graus de qualidade. Mas não é raro encontrar organizações que tendem a focar o seu planejamento na realização de atividades, como se elas fossem um fim em si mesmas e como se houvesse uma linha reta entre o desejo de mudança, as atividades e a realidade futura transformada. Essa forma de planejar trabalha mais com afirmações (“Eu faço isso e aquilo vai mudar”) do que com perguntas e hipóteses (“Para induzir tal mudança o que precisa ser feito?” “Se tal comportamento mudar será que o grupo será capaz de conquistar esse direito?” “Desenvolver somente essa atividade é suficiente ou outras atividades são necessárias? Que condições precisam estar dadas para que haja avanço?”).
O foco nos efeitos faz com que o planejamento seja um momento de encarar a complexidade dos processos de mudança. Muitas vezes para que uma mudança nas condições objetivas de vida de uma comunidade se concretize, uma série de mudanças anteriores é necessária.
Por exemplo, uma organização de assessoria em agroecologia vai desenvolver um projeto com uma associação de moradores de uma comunidade rural com alto grau de desnutrição e acesso restrito a alimentos saudáveis. No planejamento foi definido como situação futura desejada:
“Famílias garantem sua segurança alimentar e nutricional, produzem alimentos saudáveis e aumentam sua renda”.
A organização dispõe de excelentes conhecimentos e metodologia para realizar capacitações para a implantação de hortas agroecológicas nos quintais. A comunidade reconhece o problema e está animada para enfrentá-lo. Mas para contribuir efetivamente para que os avanços sejam conquistados será necessário:
Ao focar o planejamento no efeito e não na realização das atividades – que já sabia fazer e queria realizar – a organização e a comunidade descobriram que outras ações eram necessárias, mesmo antes de começar a formação para as hortas nos quintais. E outras ações estratégicas voltadas para garantir a segurança alimentar e nutricional de um grupo prioritário (crianças e adolescentes) eram necessárias. O foco nos efeitos possibilita planejamentos mais realistas, com maior qualidade e com melhores chances de efetividade.
CAIS | Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais