Equipe do CAIS em encontro de avaliação e planejamento. Foto| Cláudia Pereira
Reunidos em Brasília (DF), a equipe do CAIS fez análise da conjuntura atual e animou os próximos passos
O mês de dezembro de 2022 requer reflexões e diante ao cenário atual no Brasil se faz necessário analisar as implicações para seguir com ações em curso e novas propostas. Reunidos no Centro Cultural de Brasília (DF), entre os dias 07 e 10, a equipe do Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais (CAIS), avaliou os caminhos percorridos e iluminaram as direções para o ano de 2023. O CAIS, que é referência junto aos projetos da MISEREOR no Brasil, reforça a importância em consolidar os processos de transformação social no contexto após o resgate da democracia no país.
O primeiro dia de encontro contou com a participação de Gilberto de Carvalho que fez uma análise do momento de transição do governo federal. Gilberto é filósofo e atuou como chefe de gabinete nos dois primeiros mandatos do governo Lula e foi secretário-geral da presidência no governo de Dilma Rousseff, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT).
Presença do Gilberto de Carvalho no encontro da equipe do CAIS . Foto| Cláudia Pereira
Gilberto ressaltou a importância da vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, a retomada da democracia e os desafios da governabilidade. Considerando que são desafiantes processos de gerência, o enfrentamento maior será combater a miséria, fome, precarização de direitos e os desmontes das organizações ambientais, saúde e educação. Mas, diante da oportunidade de manutenção da democracia, é direito viver a alegria da vitória, o caminho escolhido pelo povo.
“Caso o governo Bolsonaro tivesse vencido as eleições seria tudo ainda pior, ele implantaria um novo regime no Brasil, com mudanças fortíssimas no judiciário, na liberdade democrática. Seria algo terrível para nos colocar em uma sombra por mais de 30 anos”, disse Gilberto que aponta para o momento de atenção referente a militância organizada, fanática e violenta que não aceita o resultado das eleições.
“É necessário a mobilização para pressionar”. O papel das entidades, organizações e movimentos é fundamental para ocupar espaço e construir alternativas para projetos de mudanças. Se não construir diálogo com as massas é cometer erros do passado”. Reforça Gilberto de Carvalho.
A presença de Gilberto inspirou a equipe do CAIS que refletiu os desafios para a incidência política, autonomia para o protagonismo da luta popular e atenção para a formação política, sobretudo para a juventude. Outro ponto de reflexão constante e desafiador envolve o papel da comunicação diante a desconstrução de narrativas e a segurança dos meios e ferramentas que distribuem a mensagem.
A análise do momento junto aos temas do encontro realimenta a esperança para contribuir na avaliação e planos de futuro que envolvem parceiros assessorados pelo CAIS. Para Pedro Gontijo, atual presidente do CAIS, a retomada do processo democrático contribui no fortalecimento das ações assessoradas pelo CAIS que atuam de forma concreta na pauta dos direitos humanos. A equipe avaliou as linhas de ações e agregou o ponto da análise de Gilberto de Carvalho que propõe a pedagogia como ferramenta para diretrizes de acesso aos direitos.
Madeleine Brocke, da equipe Misereor que responde pelos projetos do Brasil assessorados pelo CAIS, destacou a oportunidade de participar do encontro. Há mais de dois anos sem visitar os projetos no Brasil em razão da pandemia, o momento foi de importante reflexão sobre o futuro no país. “A experiência em viver este momento após a vitória do Lula em que as pessoas estão com muita esperança é animadora. Vejo que os direitos humanos serão vistos à frente do governo Lula. Durante a visita de campo, fiquei impressionada com a resistência dos movimentos e percebi o empoderamento das mulheres, isto é esperança”. Disse Madeleine.
As avaliações e planejamentos seguiram no segundo dia de encontro. Os assessores partilharam as vivências de ações que abrangem as regiões norte, nordeste e sudeste do país. Luiz Kohara, que assessora a temática de área urbana, relatou que os projetos que envolvem a juventude e direito à cidade, a temática do racismo é uma constância. Enfatizou que o tema foi predominante neste ano, principalmente nas comunidades da região sudeste neste ano de 2022 e a participação ativa das comunidades durante as atividades presenciais ampliou o processo de formação.
A assessora metodológica Sandra Rodrigues Lobo, observou o engajamento de jovens comprometidos com a ancestralidade, em especial os pertencentes das matrizes africanas. De modo geral, a equipe observa que a juventude periférica está reivindicando suas pautas e o momento é oportuno para as organizações discutirem o protagonismo juvenil. No campo do planejar, monitorar e avaliar, a equipe pontuou que a tecnologia de comunicação contribuiu de forma positiva para os processos de formação. As plataformas digitais ajudam na articulação das atividades presenciais que contribuem nos processos de articulação, avaliação e continuidade das atividades.
A equipe destacou ações de organizações assessoradas a exemplo dos projetos que surgem das bases e gerenciam suas próprias ações. As orientações para efeito destas organizações são fundamentais para a formação de Planejamento, Monitoramento e Avaliação (PMA) realizado pelo CAIS para este perfil de organização. “A gestão de PMA abrange da metodologia ao monitoramento de finanças e torna as ações das organizações seguras”. Dyone de Andrade, que realiza assessoria na área administrativa, partilhou que as experiências de projetos de base, além de formar gestores dos projetos, ampliam o campo do conhecimento. “As orientações perpassam pelo campo da educação básica financeira, fazendo entender inclusive os cumprimentos da legislação brasileira até a prestação de contas para o provedor do projeto. Um processo rico e desafiador, mas que se torna instigante com o compromisso e o objetivo final daquela organização assessorada pela equipe do CAIS”. Partilhou Dyone.
A equipe também refletiu sobre a comunicação institucional do CAIS e partilhou as ideias para o planejamento da comunicação para 2023. Entre as reflexões e propostas, a equipe concorda que a comunicação é uma ferramenta estratégica com capacidade de fortalecer as assessorias e estimular as organizações com ações concretas e pontuais. Ainda no contexto social e pós eleições a temática da comunicação nas redes sociais foi tema de destaque com olhares críticos e construtivos.
“Realizamos este encontro em um momento singular. Vivemos um grande alívio pelo fato de conseguir afastar um projeto pesado e destruidor para a sociedade brasileira, em especial os mais pobres. Este encontro nos proporcionou animação e nos ajudou a visualizar a reconstrução desta terra arrasada que vive um projeto permanente de retomada do fio de nossa história. Precisamos reconstruir a nossa democracia, um estado e que seja de acordo com os valores do nosso povo”. Afirmou o secretário executivo do CAIS, Paulo Maldos.
O encontro proporcionou avaliações e encaminhamentos que ajudarão no planejamento das ações dos assessorados pelo CAIS. No campo da incidência foi partilhada a necessidade em criar estratégias que envolvam a dimensão da temática do fascismo da extrema direita, desenvolvimento urbano e a temática da violência e violação de direitos. No campo do PMA foi pensado nas estratégias para fortalecer o protagonismo do sujeito respeitando seu modo de ser e a inserção popular, ou seja, incluir os movimentos que ainda não estão organizados. Em referência à gestão administrativa, foi pontuado a importância das organizações de base e para segurança, proteção e autocuidado foi pensado a formação de multiplicadores. Foram dias ricos de partilhas, reflexões e alegrias.
“Nós conseguimos cumprir as etapas das pautas que foram propostas, fizemos uma boa avaliação e temos boas perspectivas para 2023. Estas perspectivas vão além do cenário nacional apresentado neste momento. Existe uma proposta de esperança mais organizada por luta de direitos”. Disse o presidente Pedro Gontijo.
Por Cláudia Pereira | Assessoria de Comunicação do CAIS