Por Ana Carolina Ramos de Azevedo
Da Página do MST
O MST no estado do Pará está organizado em quatro grandes regionais, Regional Araguaia, Eldorado, Carajás e Cabana, a última é localizada no nordeste paraense e mais próximo à região metropolitana de Belém, composta por treze áreas, incluindo assentamentos e acampamentos.
A Regional compreende sete viveiros de mudas, seis produzindo cotidianamente, incluídos em uma política organizativa do movimento. Estes viveiros estão localizados nos Assentamentos Luís Carlos Prestes, Carlos Lamarca, João Batista, Abril Vermelho, Mártires de Abril e Paulo Fonteles e no Acampamento Olga Benário.
Os viveiros são frutos da conquista da luta na Jornada de Abril de 2018, pautada em memória de Eldorado dos Carajás, em que o MST reivindicou a implementação de viveiros de mudas em áreas de assentamentos. Esse processo reivindicatório perdurou por mais de dois anos em negociações com o Estado, pois o governo paraense não compreendia a função social da produção de mudas e suas especificidades. Os viveiros tem parceria entre o MST e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (IDEFLOR-BIO).
Os sete viveiros, ativos desde 2018, tem capacidade de 132 mil mudas por ano e estão alinhados com o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis. O objetivo é organizar as famílias para a produção num sentido amplo, de alimentos saudáveis, mas também de reflorestar as áreas de assentamentos desmatadas anteriormente.
No cotidiano os viveiros vêm desenvolvendo também a produção de mudas para a construção de SAFs, os Sistemas Agroflorestais, uma das políticas centrais do MST e fundamental para a Amazônia, já que tem o objetivo de reflorestar as áreas desmatadas com essenciais florestais nativas e frutíferas e com características amazônicas, como o açaizeiro, o muricizeiro, o biribazeiro, entre outros.
Valéria Lopes, assentada no Assentamento Abril Vermelho, em Santa Barbara do Pará, diz que os viveiros têm como objetivo também a disputa da narrativa de produção de alimentos saudáveis no estado. “A construção dos viveiros faz parte ainda da estratégia de outro modelo de produção de alimentos, que rompe com o modelo tradicionalista do monocultivo para a diversidade de produção, na perspectiva das agroflorestas nos assentamentos de reforma agrária”, ressalta.
O debate vem sendo fomentado na Regional Cabana desde 2011, como definição política e aprimorada na linha estratégica do MST a partir do seu 6° Congresso Nacional. Um dos grandes avanços do processo organizativo dos viveiros foi o 1º Encontro de Viveiros da Regional Cabana, em julho de 2019, com ações de trocas de sementes, alinhamento organizativo da estratégia política do MST, fortalecimento da participação das mulheres, formação política das coordenadoras e coordenadores dos viveiros e a agroecologia como matriz tecnológica de produção.
Protagonismo das mulheres camponesas
60% dos camponeses envolvidos na produção de mudas e organização dos viveiros são mulheres, número importante para o processo de autonomia nas áreas de assentamentos. A exemplo disso está o viveiro do Assentamento Abril Vermelho, que estão num processo experimental e com expectativa de ampliação. Ao todo, são dezoito famílias incluídas na organização do viveiro e produção de mudas, destas, doze são gestadas por mulheres autônomas diante do processo produtivo do seu lote no assentamento.
O trabalho é coletivo, uma vez por semana as famílias se reúnem para produzir, preparar as mudas e organizar o viveiro, além de fazer debates políticos do movimento. As mudas são divididas entre as famílias que estão no processo e plantadas nos seus lotes, a partir de uma orientação para os SAFs.
Nos últimos dois anos, o assentamento produziu e plantou 37 mil mudas de essências florestais amazônicas e frutíferas (murici, açaí, cacau, banana, taperebá, bacuri, cupuaçu, etc.), que proporcionarão a curto, médio e longo prazo a produção de alimentos saudáveis, geração de renda, reflorestamento e recuperação do solo e mananciais, como os igarapés e rios, impactados pela introdução de monocultivos (pastagem e dendeicultura) anteriores a construção do assentamento.
*Editado por Maria Silva
CAIS | Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais