"Contribuir com o fortalecimento das Organizações Sociais na perspectiva da defesa dos direitos e da transformação social, construindo parcerias e dando visibilidade a práticas sociais inovadoras".

“E daí que só uma coisa pode nos salvar: desintrusão já!”

Lideranças Yanomami e Ye’kwana lançam novo filme para a campanha #ForaGarimpoForaCovid e respondem à infame frase do presidente Bolsonaro sobre as vítimas da pandemia

“E daí?” Foi com essa frase que o presidente, Jair Bolsonaro, respondeu a um jornalista quando foi questionado, no Palácio do Alvorada, sobre as mais de cinco mil mortes por Covid-19, em abril deste ano. Hoje, o Brasil chega à marca de 101 mil mortes e três milhões de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus. Não são apenas números, mas pessoas, histórias de famílias marcadas pelo luto e pela dor.

O Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana lançou no dia 11 de agosto sua resposta à infame colocação de Bolsonaro. O filme “E Daí?”, narrado por Dário Kopenawa Yanomami, aponta o caminho para a proteção das comunidades indígenas diante do avanço da pandemia: “E daí que só uma coisa pode nos salvar: desintrusão já!”, conclui Dário, pedindo a retirada urgente dos milhares de garimpeiros que atualmente estão dentro do território indígena.

A pandemia da Covid-19 já levou à morte mais de 652 indígenas no Brasil, com quase 24 mil casos confirmados e 148 povos afetados. Muitos dos que partiram são anciões e lideranças de seus povos, levando consigo sabedorias, conhecimentos tradicionais e histórias de luta, inspiração e aprendizados para as novas gerações.

O líder indígena e diretor da Hutukara Associação Yanomami, Maurício Ye’kwana, destaca que o filme é mais uma tentativa de pressão para as autoridades promoverem a retirada dos garimpeiros do território. “Esse filme é para mostrar a nossa luta pela sobrevivência. É para pressionar o Estado brasileiro a cumprir o seu papel e tirar os invasores de nossas terras. Precisamos assinar a petição, nos ajude para o que governo retire os invasores”.

Assine aqui a petição “Fora Garimpo, Fora Covid!”

A mobilização da sociedade em defesa do povo Yanomami tem dado resultado. Mais de 360 mil pessoas já assinaram a petição pela desintrusão do território e esse número aumenta a cada dia. Na Justiça, a pressão também tem surtido efeito. Em 20 de julho, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) deferiu o pedido de medidas cautelares enviado pela Hutukara Associação Yanomami em conjunto com o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), reconhecendo que existe um grave risco de dano irreparável à saúde, vida e integridade pessoal dos povos indígenas da Terra Yanomami e exigiu medidas urgentes a serem tomadas pela Estado brasileiro, como a retirada dos garimpeiros.

Assista aqui ao filme, produzido pela agência Wieden+Kennedy São Paulo, em apoio à luta Yanomami:

 



Em Ação Civil Pública, promovida pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Hutukara Associação Yanomami, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) deferiu uma liminar para que a União, Ibama, Funai, ICMBIO, e Polícia Federal apresentassem um plano e executasse a retirada dos garimpeiros da Terra Yanomami como medida eficaz para prevenir a disseminação da doença Covid-19 nas aldeias.

A ação atualmente se encontra suspensa, à espera de manifestação do desembargador relator para que se siga com o cumprimento da liminar.

Em 5 de agosto, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a decisão liminar do ministro Luís Roberto Barroso determinando que medidas urgentes sejam tomadas para conter o avanço da Covid-19 nas terras indígenas do país.

A decisão, em resposta a uma ação (ADPF) apresentada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), reforça que é dever do Estado brasileiro promover a retirada dos invasores das terras indígenas.

Outro momento importante da campanha #ForaGarimpoForaCovid foi a reunião, no final de junho, entre Dário Yanomami e o Vice-Presidente da República, general Hamilton Mourão, quando o líder indígena pediu pela retirada imediata dos garimpeiros de seu território e recebeu de Mourão o compromisso que medidas seriam tomadas.

Para Maurício Ye’kwana, “apesar de todo esse reconhecimento judicial, ainda não se tem uma resposta concreta para impedir que a situação se agrave”. Segundo ele, “há transmissão comunitária do vírus nas comunidades Yanomami justamente nas áreas mais afetadas pelo garimpo ilegal. Precisamos mais do que nunca retirar os garimpeiros”.

Fonte: Instituto Socioambiental