25 anos da ANPB – Celebração no Santuário de Aparecida
Bispo emérito de Jales, Dom Demétrio Valentini
Motivação inicial:
Minha saudação inicial a todos os irmãos e irmãs, presentes neste Santuário Nacional de Aparecida. Minha saudação também a todos os que estão sintonizados conosco neste momento, através da TV Aparecida e de outros Meios de Comunicação.
Hoje minha saudação se volta, de modo muito especial, para todos os PRESBÍTEROS do Brasil, representados hoje aqui pela Associação Nacional dos Presbíteros do Brasil, que celebra seus vinte e cinco anos de fundação.
Uma Associação que brotou da liberdade, e da responsabilidade, de um numeroso grupo de Padres, de Presbíteros como os chamou o Concílio Vaticano Segundo, preocupados com a comunhão dos padres entre si e com as dioceses onde partilham com os Bispos a grande missão apostólica que Cristo conferiu aos Doze Apóstolos.
Já o fato de estarmos assim reunidos hoje, para celebrar a Eucaristia congregando presbíteros ao redor do bispo, visualiza a própria Igreja, que sempre se refaz ao celebrar a Eucaristia com os presbíteros em comunhão com o bispo.
Sentindo a graça de Deus que nos envolve em sua Igreja, iniciemos nossa celebração invocando o nome do Senhor!
– Em nome do Pai…
– Ato penitencial
Hoje a liturgia nos apresenta o epílogo do misterioso episódio do dilúvio. Ele enfatiza a firme decisão do Criador, de não mais permitir que o mal triunfe sobre o bem. Quando sentimos o peso de nossas fraquezas, como todos na Igreja o sentimos, somos chamados a voltar-nos para Deus com maior confiança ainda. Pois ele nos garante que “a misericórdia triunfa sobre o julgamento”.
Invoquemos agora esta misericórdia de Deus especialmente para todos os ministros da Igreja. Para que suas limitações se tornem oportunidade de acolhida mútua e de confiança em Cristo que entregou sua Igreja nas mãos de apóstolos frágeis e pecadores. Confessemos os nossos pecados!
(fórmula do Ato Penitencial)
– Palavras finais, antes da Bênção:
Agradeço o convite que me foi feito pela Associação Nacional dos Presbíteros do Brasil, para concelebrar esta Eucaristia com eles. Faço votos que Deus abençoe suas iniciativas. E muito especialmente que sejam protagonistas da solução adequada da questão ministerial na Igreja de Cristo.
Sobre cada um deles em particular, e sobre todos os presbíteros do Brasil, a bênção copiosa para que todos possam contar com a abundância da graça de Deus!
25 anos da ANPB – 14 de fevereiro de 2017
Homilia da missa no Santuário de Aparecida
Meus irmãos e minhas irmãs!
Em especial caríssimos Presbíteros aqui reunidos hoje nesta Basílica de Aparecida para celebrar os 25 anos da Associação Nacional dos Presbíteros do Brasil.
Em vocês, queremos ter presentes, com muito respeito e reconhecimento, todos os Presbíteros espalhados pelo Brasil. Com sua dedicação e persistência vão sustentando a fé que anima nossas comunidades.
A bonita cena do Evangelho de hoje, nos mostrando os apóstolos reunidos com o Mestre, enquanto a barca continuava sua travessia. Eles conversavam sobre o escasso pão que traziam consigo. Ao passo que o Mestre lembrava a eles a fartura de pães, partilhados com generosidade e com exuberância.
O Mestre questionava o fermento equivocado dos fariseus, que fazia os apóstolos se enganarem a respeito da proposta de Cristo, de garantir pão em abundância para todos!
Iluminados pela força simbólica do Evangelho, podemos hoje entrar em diálogo com o Mestre, e colocar a ele nossas angústias ao constatar o contraste entre o pouco pão eucarístico em nossas comunidades, e a abundância de graças que Cristo quer garantir a todos.
Podemos afirmar que a questão presbiteral na Igreja pode ser colocada nos termos do Evangelho de hoje, que coloca o contraste existente entre a escassez de pão, que preocupava os apóstolos, e a abundância de pães, providenciada por Cristo.
Herdeira da abundância querida por Cristo, a Igreja se equivoca, ficando aprisionada a uma escassez, que é fruto de outros fermentos, no horizonte curto de critérios equivocados.
Escassez de pão nas comunidades, abundância de pães oferecida por Cristo! Assim podemos identificar a questão ministerial na Igreja em nosso tempo.
Escassez de pão eucarístico, em contraste evidente com o amor de Cristo que deseja renovar, pela Eucaristia, o seu gesto multiplicador do “pão da vida”!
O próprio Cristo fez questão de vincular sua presença ao gesto da partilha do pão. Foi ao “partir o pão” que os discípulos de Emaús o reconheceram.
Também nós nos reconhecemos, pela maneira como repartimos o pão eucarístico.
Vale colocar a questão, com toda a seriedade que ela merece: somos uma Igreja que parte o pão, ou uma Igreja que submete suas comunidades à escassez de pão que leva à debilidade e à própria dissolução eclesial?
“Sem Eucaristia não existe comunidade cristã”, foi afirmado solenemente aqui nesta Basílica pelo Papa Bento 16, na abertura da Quinta Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, em 2007.
Falta agora conferir que consequências práticas tiramos desta verdade tão importante, afirmada pelo Papa.
Aí, entra em cheio a questão presbiteral. Os presbíteros são o símbolo mais evidente da fundamental disposição da Igreja nascente. Ela aprendeu cedo a preciosa lição de que o ministério apostólico precisava ser partilhado com outros ministros, que em comunhão com os Apóstolos fundavam comunidades, e garantiam seu crescimento e sua comunhão com a escolha de pessoas maduras que recebiam a força da graça e a incumbência do ministério que garantia a comunhão eclesial.
É notável o exemplo de Paulo, ao visitar as comunidades que sua presença apostólica tinha suscitado. Em cada uma delas “designava presbíteros , e os confiava ao Senhor, em quem tinham acreditado” (Atos 14, 25.
E´ preciso resgatar o sentido verdadeiro da decisão da Igreja de Jerusalém, de constituir “sete homens de boa reputação, repletos do Espírito e de sabedoria”, para se dedicarem ao atendimento dos mais carentes da comunidade.
Este episódio não se limita à instituição de “diáconos”, como se supunha tradicionalmente. Na verdade, este episódio se constitui no gesto fundacional da partilha do ministério apostólico.
Nele encontramos os critérios de procedimento, para que a Igreja continue partilhando o ministério apostólico. A referência fundamental é a comunidade, que manifesta suas necessidades, e em vista delas os apóstolos propõe uma solução que é assumida em conjunto, pelos apóstolos e pela comunidade.
O critério fundamental, portanto, é perceber as necessidades da comunidade, e atendê-las através de uma incumbência confiada claramente a um grupo de pessoas, indicadas pela comunidade, e confirmadas pelos apóstolos.
Hoje a Igreja precisa escutar os apelos das comunidades, que manifestam suas necessidades, que devem ser atendidas.
Nisto entra em jogo a “questão presbiteral”. Ela precisa ser resolvida adequadamente. E para tanto é urgente recuperar a visão ministerial do Concílio Vaticano II.
O Concílio recuperou não só a palavra “presbítero”, tirada da Sagrada Escritura. Mas recuperou sobretudo a dimensão apostólica do ministério presbiteral. Ele enfatiza a figura do “Presbítero”, integrado na grande missão apostólica, em comunhão com o seu “Presbitério”, presidido pelo Bispo Diocesano, unificado interiormente pelo devotamento à sua missão, sentindo-se irmão no meio de irmãos, e colocando-se a serviço da comunidade, em atitude de generosa dedicação de sua vida, a exemplo de Cristo e em nome dele.
Assim o Concílio pensou os “Presbíteros”.
E´ urgente recuperar esta visão conciliar do ministério presbiteral para neutralizar algumas tendências equivocadas, que já se manifestam com surpreendente frequência, de presbíteros que assumem posturas de verdadeiros dominadores das comunidades, onde se julgam senhores e não servos.
A advertência vale também para alertar sobre equívocos, que também vão crescendo, de cultivar uma aspiração vocacional que busca assegurar privilégios sociais e eclesiais, vinculados a uma visão de presbítero que advoga o exercício do poder, e não a atitude de serviço humilde e fraterno.
Alerta semelhante também é necessário diante de outro fenômeno, que vai se propagando rapidamente, de usar um aparato externo vistoso, que impressiona, e que dispensa uma formação verdadeira, necessária em vista do exercício deste ministério tão importante.
Voltamos agora à questão central, trazida hoje à nossa reflexão pelo aniversário de 25 anos da Associação Nacional dos Presbíteros.
A Igreja precisa com urgência providenciar ministros que garantam a celebração da Eucaristia nas comunidades. A questão é clara, evidente, e urgente.
É preciso repartir o ministério apostólico, para que as comunidades possam contar com o amor salvífico de Cristo, que se torna presente em sua plenitude pela celebração do mistério pascal na Eucaristia.
A Igreja precisa de ministros que tenham a incumbência, e a missão, de garantir a Eucaristia nas comunidades, para que elas não se enfraqueçam, e venham a se diluir e até desaparecer.
Trata-se agora de dar passos concretos, em vista da solução deste assunto tão importante para a Igreja.
O Papa Francisco, com sua coragem e ao mesmo tempo prudência, pediu que a CNBB apresentasse um projeto. Já seria uma motivação a ser assumida com presteza e dedicação.
Pessoalmente, me permito colocar aqui minha posição, bem consciente do pouco peso que ela poderá ter. A vida ensina a relativizar as aspirações pessoais, e situá-las na dimensão mais ampla da história. Não importa se não conseguimos ver realizados todos os nossos sonhos. Ainda mais agora, como bispo emérito, não mando mais nada. Nem mando dizer!
Tomo a liberdade de pedir à CNBB que agilize a discussão do problema, para que a questão de contarmos com “presbíteros de comunidade” possa ir se definindo nos seus detalhes, e para que possamos respaldar a disposição de nosso Papa Francisco, de dar andamento a esta providência. Para que neste assunto, que envolve profundamente a vida da Igreja, o Papa não se veja obstaculizado por resistências eclesiais internas, mas conte com o claro apoio da CNBB, e em especial dos Presbíteros do Brasil, representados hoje aqui pelos membros da Associação Nacional dos Presbíteros do Brasil, a quem quero saudar de novo neste momento, e pedir que se tornem os propagadores principiais desta providência eclesial tão importante.
A escassez de pão na barca dos apóstolos, se transforme em fartura de graças, que o Cristo quer assegurar a todos os seus discípulos que buscam vida em abundância.
Assim seja!
CAIS | Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais