"Contribuir com o fortalecimento das Organizações Sociais na perspectiva da defesa dos direitos e da transformação social, construindo parcerias e dando visibilidade a práticas sociais inovadoras".

Curso discute os efeitos da economia política no dia a dia do trabalhador e da trabalhadora

Temas do curso foram sugeridos pelos próprios cursistas.  A formação conta com a participação de estudiosos que irão aprofundar cada temática ao longo de cinco módulos

 

Teve início neste 30 de março o Curso Popular de Economia Política, realizado virtualmente numa parceria entre a Rede Jubileu Sul Brasil e a 6ª Semana Social Brasileira.  “Por que a economia é política? ” foi o tema da primeira aula, transmitida ao vivo nos canais do Youtube das entidades, e contou com a presença de mais de 550 pessoas ao longo de sua duração, entre às 19h30 e 21h30. O horário será o mesmo para os quatro módulos restantes, sempre às terças-feiras.

Com essa formação, as organizações visam apresentar a economia política como recurso para a transformação popular. Buscando uma análise crítica das demandas da sociedade, todas as temáticas trabalhadas no curso foram construídas coletivamente a partir de uma enquete sobre as dúvidas em economia, em que mais de 150 pessoas enviaram perguntas.

A mediação ficou por conta de Alessandra Miranda, coordenadora executiva da 6ª Semana Social Brasileira, que abriu a aula com uma fala sobre a motivação para o desenvolvimento desse estudo coletivo.

“Como processo de fortalecimento, especialmente da luta das mulheres, que são as mais impactadas pelos processos econômicos e excludentes que vivemos hoje, definimos por um curso onde a economia possa ser apresentada para nós que não somos do lugar do estudo da economia, para que se possa atuar e entender como funcionam os processos da economia, tudo isso por um processo de formação popular com a economia política no centro do debate”.

Nesta primeira aula, participaram as educadoras Dirlene Marques, professora do Departamento de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Sandra Quintela, economista e educadora popular, articuladora da Rede Jubileu Sul.

A elas ficou a tarefa de fazer um resgate dos processos de formação do modo de produção capitalista sob um olhar marxista, buscando responder a algumas das perguntas formuladas pelos alunos. Dentre elas, reflexões como: quais as principais características das crises do capitalismo? O que é neoliberalismo? Se as mulheres administram a casa com recursos tão escassos, não seria interessante elas serem ouvidas quando forem definir a política econômica?

Ao definir o capitalismo desde o seu início, Dirlene explicou que há todo um aparato para manter a classe dominante como um ideal de reprodução.

“O objetivo do modo de produção capitalista é mais do que o lucro, e a reprodução do capital faz isto por meio da produção de mercadoria que teria de ser vendida no mercado através da concorrência. E tem de ganhar a concorrência, reduzindo os preços sem reduzir o lucro, o que só é possível com a tecnologia que aumenta a produtividade do trabalho, reduzindo salários, diminuindo e preconizando o trabalho”, pontuou a professora da UFMG.

Segundo Dirlene, o estudo sobre o capitalismo é fundamental para resistir às pressões da classe dominante. E para entender esse sistema seria necessário olhar para a nossa história e observar os processos de dissolução da relação entre o trabalho e o produto do trabalhador.

Essa relação entre trabalho e produto passou por três grandes períodos. Primeiro o de “Economia natural da Comunidade Primitiva”, produtora de valores de uso (satisfazer sua própria necessidade); o segundo da pequena produção mercantil, época histórica em que o artesão ainda é dono dos instrumentos de trabalho, a produção de valores de uso em que a subsistência é garantida como produto de seu próprio trabalho; e o terceiro de produção capitalista, onde há separação entre o produtor e os meios de produção.

No modo de produção capitalista a força de trabalho é tida como uma mercadoria especial, tendo uma produtividade tal que o valor gerado por ela é superior aos gastos de sua manutenção – mais valia. Com esse modelo voltado para o lucro, o mercado se baseia na superação da concorrência, reduzindo os preços, mas sem diminuir o capital da burguesia.

Assim, o sistema se mantém pela redução de salários e direitos, gerando constantes crises e novos ciclos de exploração e dominação em busca de se manter de pé. As crises também ajudam a dissolver os capitais menores e concentrá-los nas mãos dos grandes empresários, formando monopólios, explicou Dirlene.

O Estado teria papel importante ao dar continuidade a essas políticas, agindo sempre em defesa da preservação do lucro dos empresários, muitas vezes atentando contra os direitos dos próprios cidadãos. A teoria marxista, ao revelar essas características do sistema, se torna alvo de forte repressão.

Ao fazer sua exposição, Sandra Quintela lembrou que o surgimento da teoria marxista foi reprimido não só no campo da violência física. Muitos pensadores da burguesia, capitaneados pelos neoclássicos e os da escola austríaca, desenvolveram uma série de trabalhos ideológicos visando reduzir a importância da produção de valor da classe trabalhadora, afirma a economista.

“A economia política, dizia Marx, trata de luta de classes. […] Nesse sentido, todo o século XX por exemplo, a economia, que vem a se chamar neoliberal na década de 30, foi para que? Foi para tirar o foco de que a classe trabalhadora é quem produz riqueza. Então toda a teoria econômica foi para tirar o valor trabalho”, ressaltou a articuladora da Rede Jubileu Sul.

O próximo módulo terá como tema “Por que faltam empregos no Brasil?”, com o encontro marcado para às 19h30 (horário de Brasília), dia 6 de abril (terça-feira), nos canais Youtube tanto da Rede Jubileu Sul Brasil, quanto da  Semana Social Brasileira.

As aulas ao vivo têm acesso exclusivo aos participantes inscritos, mas o conteúdo será disponibilizado para o público em geral nos canais de Youtube das organizações.

 

Fonte: Site ssb.org.br